segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

O calendário e o desejo de vida



 Os ciclos cronológicos servem para mantermos certo controle sobre os nossos dias. Caso contrário, nos perderíamos no tempo. O tempo! Por isso, usamos o calendário. Esse pequeno/grande “controlador” temporal surgiu na Mesopotâmia (segundo historiadores), provavelmente entre os sumérios e era lunar. Já o solar, foi criado pelos egípcios. Os dias do ano totalizavam 354, de acordo com as primeiras versões desse sistema de divisão temporal. Uma defasagem em relação à contagem instituída pelo papa Gregório XIII, em 1582. 
Ao redor do mundo, temos, ao menos, oito calendários de povos distintos: o gregoriano, o Juliano, o chinês, o judaico, o juche, o etíope, o maia e o islâmico. Cada um desses possui significados distintos, de acordo com as crenças de um povo e com a sua cultura. Além disso, não conta os dias e meses do mesmo modo. Ou seja, não estamos “no mesmo tempo” em todos os lugares do mundo. Mas, qual o meu objetivo com essas explicações? Refletir sobre o sentido da felicidade.
No Ocidente, devido à influência cristã, temos a tradição de encerrarmos o ciclo anual assistindo a ritos eclesiásticos e/ou nos reunindo em torno da ceia com orações, cânticos, agradecimentos, trocas de presentes, elogios, além dos planos e promessas que não deixam de faltar, sejam individuais, ou coletivas.
Acredito na importância de cada sujeito viver essas experiências. São escolhas, e precisam ser respeitadas.
No entanto, embora dediquemos energias e crendices em promessas de “um novo tempo”, acho necessário entendermos a real noção do que significa felicidade.
A cada novo dia, tenho aprendido que ser feliz independe da quantidade de conquistas, bens materiais robustos e marcados. Independe da mudança de carro, de emprego, de salário, de relacionamento, de plano de saúde, do pagamento do cartão de crédito e da possibilidade de investimento no Tesouro.
A felicidade depende da minha interpretação. Posso não ter nada, no entanto, possuir o necessário para o autoconhecimento e para o equilíbrio. Posso não ter comprado presentes para distribuir entre amigos e familiares, mas posso ter dado os sinceros e necessários abraços acolhedores e curativos. Posso ter tocado com carinho o braço de alguém, a mão, o pé e ter olhado nos olhos dando um sorriso dizendo: vamos continuar?
Posso ter uma cama aconchegante, uma TV moderna, o celular recém-lançado, perfumes e bolsas de marca e mesmo assim adoecer achando que nada tenho. Bem como posso ter paredes desgastadas e sem pintura em casa, um chão de areia, um colchão velhinho, um perfume comercial, uma TV antiga e ser a pessoa com o melhor humor do mundo.
A minha mãe sempre me disse que um dia eu perceberia que os verdadeiros amigos a gente conta nos dedos das mãos, pois enquanto jovenzinhos achamos serem incontáveis. Posso ter tantos deles, ou poucos, e ser feliz, ser saudável, ser sorridente.
Posso olhar o sol brilhando e o céu limpinho todos os dias pela varanda do meu apartamento achando ser um dia coberto de nuvens escuras. Assim como, a depender da minha interpretação, verei um dia chuvoso como o melhor para ler um livro e apoiar a mais bela xícara de café no braço do sofá.
Diante disso, percebo que o calendário não controla nada. As promessas de nada valem e as listas de planejamento se tornam inúteis. Posso escolher ser feliz e sorrir em dezembro, em janeiro, no início ou no final do ano. Talvez no carnaval ou no São João...
Por isso, o que desejo para mim e, em dobro para quem quiser estar ao meu lado, é “vida, longa vida”, como diria o Padre Fábio de Melo.


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