“Só
queria que você um dia acreditasse em mim”. Um anjo, com quase 69 anos de
idade, me diz isso há tanto tempo, mas eu nunca fui capaz de entender o que significava. Aquele anjo só queria me dizer que, tudo o que fazia e como
fazia era para ser compreendido na sua maneira de demonstrar que ama. Eu, por
minha vez, não entendia. A gente só discutia.
É
muita energia, diferente da minha, ou não, com a qual não consigo lidar. São
entrechoques químicos, físicos e quânticos!
Discutimos
a vida inteira, porque eu cobrava um amor em atitudes (me colocar no colo, me
beijar, me dar mimos, me proteger das minhas dores mais profundas, dos meus
demônios insistentes).
“Só
queria que você um dia acreditasse em mim”, o anjo dizia. E eu, impetuoso, insistindo
que palavras eram vazias de sentido, quando não postas em prática.
O
anjo, com quase 69, chegou de surpresa um dia ao meu apartamento, e eu me senti
invadido. Ele disse que veio cuidar de mim, das roupas que estavam sujas, da
morada que estava desajeitada.
“Vá
dormir, eu cuido de tudo!”
Eu,
que não acostumado a receber aqueles cuidados, briguei, quase expulsando aquela
presença.
Passei
a vida achando que aquele ser não tinha condições de cuidar de mim. Eu, sempre
esperando o amor. O anjo, esperando que eu acreditasse. Eu, esperando, quase na
mendicância, as atitudes que idealizei. E o anjo mostrando que amava como
podia.
Passei
dias e noites achando que sabia muito, e demais, e que tinha condições de falar
sobre amor, acolhimento e empatia. Achei que aquele anjo era incapaz de sentir
algo assim.
Por
sua vez, o ser de luz passou anos esperando que eu acreditasse na sua forma de amar.
E eu, incapaz, não entendia.
Totalmente
fechado no meu mundo, fiquei me protegendo dele, dela, deles e de mim.
Ele
só queria vir limpar o meu apartamento e lavar as minhas roupas, para dizer que
entre nós estava tudo bem de modo singular e espontâneo, que só ele tem. E eu,
engessado nas minhas idealizações em formas geométricas.
Por
que até hoje fico esperando um amor que se torna um canhão e sai atirando nos
meus demônios, para me proteger? Tão enquadrado sou e meu olho esquerdo não vê!
Nessa
madrugada, às 03h30, acordei insone e um mar revolto invadiu o meu quarto, por
começar a entender que o amor daquele ser é verdadeiro como um canhão que atira
para todos os lados, para me proteger do meu cansaço, da minha correria e das
distâncias do meu ser que acha saber muito e demais.
Fonte: https://www.luso-poemas.net
Bem
simples! Eu que não vejo! Sou incapaz!
Mas
é o amor, da forma que deve ser. E, depois de ser banhado e chacoalhado pelas
águas do mar que entraram em meu quarto, descobri que quero acreditar em você!
Quero
acreditar e aceitar, Mãe. Vamos tentar de novo! Pode vir!