quinta-feira, 27 de junho de 2019

A visita do anjo e o mar revolto do meu quarto


“Só queria que você um dia acreditasse em mim”. Um anjo, com quase 69 anos de idade, me diz isso há tanto tempo, mas eu nunca fui capaz de entender o que significava. Aquele anjo só queria me dizer que, tudo o que fazia e como fazia era para ser compreendido na sua maneira de demonstrar que ama. Eu, por minha vez, não entendia. A gente só discutia.

É muita energia, diferente da minha, ou não, com a qual não consigo lidar. São entrechoques químicos, físicos e quânticos!

Discutimos a vida inteira, porque eu cobrava um amor em atitudes (me colocar no colo, me beijar, me dar mimos, me proteger das minhas dores mais profundas, dos meus demônios insistentes).

“Só queria que você um dia acreditasse em mim”, o anjo dizia. E eu, impetuoso, insistindo que palavras eram vazias de sentido, quando não postas em prática.

O anjo, com quase 69, chegou de surpresa um dia ao meu apartamento, e eu me senti invadido. Ele disse que veio cuidar de mim, das roupas que estavam sujas, da morada que estava desajeitada.

“Vá dormir, eu cuido de tudo!”

Eu, que não acostumado a receber aqueles cuidados, briguei, quase expulsando aquela presença.
Passei a vida achando que aquele ser não tinha condições de cuidar de mim. Eu, sempre esperando o amor. O anjo, esperando que eu acreditasse. Eu, esperando, quase na mendicância, as atitudes que idealizei. E o anjo mostrando que amava como podia.

Passei dias e noites achando que sabia muito, e demais, e que tinha condições de falar sobre amor, acolhimento e empatia. Achei que aquele anjo era incapaz de sentir algo assim.
Por sua vez, o ser de luz passou anos esperando que eu acreditasse na sua forma de amar. E eu, incapaz, não entendia.

Totalmente fechado no meu mundo, fiquei me protegendo dele, dela, deles e de mim.
Ele só queria vir limpar o meu apartamento e lavar as minhas roupas, para dizer que entre nós estava tudo bem de modo singular e espontâneo, que só ele tem. E eu, engessado nas minhas idealizações em formas geométricas.

Por que até hoje fico esperando um amor que se torna um canhão e sai atirando nos meus demônios, para me proteger? Tão enquadrado sou e meu olho esquerdo não vê!

Nessa madrugada, às 03h30, acordei insone e um mar revolto invadiu o meu quarto, por começar a entender que o amor daquele ser é verdadeiro como um canhão que atira para todos os lados, para me proteger do meu cansaço, da minha correria e das distâncias do meu ser que acha saber muito e demais. 



Bem simples! Eu que não vejo! Sou incapaz!

Mas é o amor, da forma que deve ser. E, depois de ser banhado e chacoalhado pelas águas do mar que entraram em meu quarto, descobri que quero acreditar em você!

Quero acreditar e aceitar, Mãe. Vamos tentar de novo! Pode vir!