De fato, não sou o
homem mais experiente no que se refere às relações humanas. Embora saiba de algumas
regras básicas para “garantir” a harmonia na convivência (o elogio, a gratidão,
a percepção de detalhes e de pequenas coisas etc.), nem sempre me vejo em
condições de exercer isso. Minha mente é muito agitada e falho bastante nas atitudes sadias diárias. Quase um crime isso!
Há uns dias, em casa,
ainda em Manaus, recebo uma mensagem no celular avisando já estar prestes a
chegar do trabalho e me fazer uma surpresa. Uau! Já fiquei ansioso, mas
fingindo maturidade sem demonstrar o meu lado curioso.
Esperei a sua chegada
pensando o que poderia ser aquele mimo. Consegui manter minhas unhas intactas,
pelo fato de não ter o costume de roê-las. Mas garanto que os dedos vieram à
boca, algumas vezes.
Chegando do trabalho,
me envia uma mensagem do lado de fora de casa dizendo para eu abrir o portão
principal e vir para a sala ficar de olhos fechados, para não estragar a
surpresa. Assim o fiz!
Ouvi os passos subindo
as escadas, o barulho de sacolas, aquela respiração ofegante do cansaço e a voz
animada para me surpreender: “Boa noite! Prometa não abrir os olhos”. Como fui um bom menino, ganhei
uma capa nova para o meu celular, um perfume, sabonetes e uma lixa para os pés.
Sim! Isso mesmo!
Exatamente isso: uma lixa!
Amei os primeiros itens
da surpresa! Fiz aquela festa de animação e gratidão pelos presentes que são
usados até hoje com carinho. No entanto, o que mais me surpreendeu foi aquela
lixinha para os pés. O presente mais barato, mais simples, talvez até indigno
de receber uma crônica para si.
Onde moramos no
momento, por mais que façamos uma limpeza diária, há muita poeira. Gosto de
andar com os pés descalços dentro de casa, consequentemente, foi acumulando uma
mancha debaixo deles por dias, mesmo lavando com cuidado, com sabonete e escova.
Assim, ganhei uma lixa para os meus pés! Que presente mais interessante! Na
certa, o recado estava dado: eu precisava cuidar mais deles!
Bom! Todo esse ocorrido
me surpresou pela delicadeza envolvida e por saber que sou lembrado durante
o dia, mesmo pelo fato de estar com os pés sujos. Embora tudo isso, fiquei mais
impactado devido à atitude singela e à capacidade que teve de perceber os
pequenos detalhes no nosso cotidiano.
Como eu disse, não sou
o homem mais experiente no que se refere às relações humanas, mas acredito que,
notar alguma minúcia no outro é um sinal afirmando ainda
estarmos ali para alguém, ainda sermos presentes, ainda sermos movimento e
energia. Ser invisível é como ser submetido a uma cirurgia sem anestesia!
Há bem poucos dias, iniciamos
mais uma contagem cronológica, para a nossa organização social. Agora, talvez
seja um bom momento para recapitularmos aquela simplicidade que está se
esvaindo em nossas relações, de qualquer tipo que sejam. Perdemos tanto tempo
preocupados em comprar a roupa nova ou em fazer planos complexos para seguir.
Tantas promessas e determinação para mudanças, mas tanto distanciamento daquilo
que realmente importa.
O presentinho para os
meus pés está no banheiro e, todos os dias, ao usá-lo, me lembro com carinho daquela
situação. Escrevendo este texto, tive a rápida ideia de “perder” a lixa e pedir
outra de presente, para começar tudo de novo!
Adoro ler suas histórias, são momentos q por menor q seja,nunca vai sair da memória pq são de pessoas com coração cheio de amor❤
ResponderExcluirAdoro ler suas histórias,pois são pequenos momentos, porém inesquecíveis de pessoas com coração cheio de amor e alegria❤
ResponderExcluirNada pior do que ser invisível aos olhos de quem amamos. Amar e ser correspondido é algo sublime e raro. Nesse "estado de graça", nós também ganhamos o presente da sua inspiração! Te amo meu querido amigo!
ResponderExcluirQue lindo seu texto Paulo! Um brinde ao amor, as delicadezas e singelices da vida. Felicissimo 2020!!!
ResponderExcluirSem dúvidas é algo inusitado de se ganhar, todavia, por ser fruto de uma observação minuciosa faz-se mais que importante pois é uma prova de enxergar o outro nos seus mínimos detalhes. É muito amor envolvido!
ResponderExcluirQue linda crônica. Há momentos em que o "menos" é mais! Em que o mais simples é o mais surpreendente.
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