Ontem, noite de um
sábado de março, caminhei no calçadão da orla pessoense preenchido por belos
sons de uma voz, por assuntos cotidianos e por afinidades de sonhadores. Lá
estava a Lua, não a nos olhar, nem a nos trair, mas sinalizando a sua
indisposição para cumprir suas atividades diárias sobre nós: brilhar, tomar
formas, iluminar o mar, servir de inspiração para os artistas pintarem as suas
telas, acompanhar os viajantes em cruzeiros...
Ao contrário! Estava
decididamente escondida por trás de nuvens noturnas deixando apenas a
sugestividade da sua luz à mostra. A noite, embora no calçadão de uma vasta
orla, estava quente e pouco ventilada.
Por isso, em poucos instantes,
como num passe de pensamento mágico, percebi que a natureza nos dizia ter o
direito de se recolher, de se recompor, de não trabalhar cotidianamente ao
ponto de não a percebermos, por ser tão rotineira a sua manifestação. A natureza decidiu
ficar quietinha e observadora, como se quisesse chamar a atenção de alguém.
Ao caminhar, ao olhar o
céu, ao sentir o calor forte notei a minha pouca habilidade de ser grato por
ter diuturnamente (e não apenas diariamente) os festejos naturais à minha
frente: o brilho da lua, os ventos fortes, as ondas do mar, as nuvens, as
afinidades.
https://www.foap.com/image-photo/noite-lua/page-7 |
A minha habilidade, ultimamente, tem
sido corresponder às exigências do mercado de trabalho, do outro, das formações
de pessoas com alteridade, de esclarecer algo esplêndido diante da cegueira
social, de levar o remédio em tempo hábil para as doenças emocionais dos dias
atuais (e vindouros).
O silêncio não tem me
acompanhado há meses, bem como a habilidade para perceber a minha respiração. Não
me lembro de ter tomado um café da manhã com olhos sensíveis à cor e ao sabor
das frutas matinais.
Como diz a canção
interpretada por Lulu Santos “somos feitos de silêncio e som”, também. A pressa
e a gana por corresponder às exigências do mundo ao meu redor, a necessidade
(de quem mesmo?) por brilhar, por produzir, por ter mais e mais estão me tirando o direito
de me esconder por trás de minhas "nuvens noturnas" e ficar no meu silêncio e no meu
som, como plenamente fez a Lua ontem, noite de um sábado de março.
😊
ResponderExcluirQue texto lindo! 😍
ResponderExcluirMuito belo!
ResponderExcluirTexto lindo
ResponderExcluirSublime vazio - osho, vale a leitura. Esses momentos de esvaziamento de nós, nos conectam com nossa verdadeira essência, o ego fica de lado, vem a poesia de simplesmente ser.
ResponderExcluirQue texto perfeito primo!
ResponderExcluirMe apaixonei ainda mais
ResponderExcluir👏👏👏amei
ResponderExcluirFez feliz o meu dia. Que jeito maravilhoso de começar a manhã. Obrigado por nos dar esse pérola meu querido professor.
ResponderExcluirQue reflexão linda! Obrigada por nos presentear!
ResponderExcluirIsa Novais
ResponderExcluirSimplismente PERFEITO!
Não conhecia seu trabalho,mas agora,vejo quanto tempo perdi, passei a ler seus textos, e não apenas virei fã, de um, e sim de todos, você escreve muito bem, obrigada por mostrar um mundo real repleto de surrealidade.
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