domingo, 25 de agosto de 2019

No caderninho da Frida Kahlo

Revirando meus pertences, meus papeis no meu escritório, encontrei um caderninho, cuja capa é a estampa da Frida Kahlo.
Há textos meus nesse objeto, que foram escritos em 2016, quando enfrentava uma das grandes crises emocionais já vividas por mim.
Como sempre, não me lembro de onde estava, quando escrevi os textos. Apenas em um deles fiz menção a estar em um voo para Guarulhos/SP. Deveria ser o traslado para algum congresso na minha área de atuação.
Os textos são densos emocionalmente, pois se referem a angústias que vivi. Naquela época, já começava a faxina interior rumo ao autoconhecimento. Por não conseguir encontrar ainda o equilíbrio, a dor me parecia muito doída. Bem maior do que realmente era. Questionava o tempo, me zangava com Deus, me incomodava com o meu corpo, com o meu apartamento, com o silêncio, com o barulho, com as pessoas. E isso gerava mais ansiedade ainda.
Hoje, 2019, vi o caderninho e, não sei se por coincidência, ou por escolha do meu inconsciente, a capa é uma imagem da Frida Kahlo, artista mexicana que teve uma vida emocional e física bastante esmagada.
Estávamos juntos! Eu escrevendo em um caderno com ela me olhando o tempo todo!
Nesses três anos que se passaram, acredito não ter amadurecido tanto ainda. No entanto, vejo que já consigo acessar espaços em mim nunca visitados antes. Não sabia que existiram tralhas e mais tralhas: caixas, baús, brinquedos, choros guardados, traumas encobertos, desejos, medos, vergonhas, nomes esquecidos, nomes sempre lembrados, noites, dias, funerais, rituais, orações, viagens, despedidas, toques.
Se alguém me pedisse para destacar algo que percebo em mim com mais maturidade, eu diria: Hoje, 2019, entendo que as minhas emoções são minhas. As minhas carências são minhas e ninguém pode supri-las. Mas posso deixar a mendicância distante, lá atrás, mendigando ela mesma. Sou um homem! Sou forte! Sou bonito por dentro e por fora!
A faxina levará tempo ainda para ser concluída. Posso ser honesto? Nem sei se fazendo tantas diárias ainda conseguirei concluir, um dia, essa faxina. Embora isso, me sinto outro, por não esperar do outro, não julgar ou culpar ninguém nem a minha história. Sou quem sou hoje devido à minha história.
Pode doer vez em quando, mas já não será mais aquela dor maior do que realmente é. Minha alma está em 2019, não mais em 2016.

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