(Parafraseando “O tempo é o maior
tesouro de que um homem pode dispor.” Raduan Nassar – Lavoura Arcaica, 1975)
Paulo Ávila (GEILIM/UEPB)
30 de maio de 2020
Era uma vez...!
E lá se vão 17 anos, desde que entrei no
curso de Letras, da UFPB, em João Pessoa. Não acreditava estar sentado naquelas
cadeiras duras, pesadas, entre aquelas paredes do CCHLA com tijolinhos à mostra,
portas e janelas abertas para sentir um pouco do vento, que nunca entrava.
Assisti a muitas aulas com metodologias
ativas baseadas na tecnologia daquela época: retroprojetor, pesado, enorme e com
suas folhas de transparências para que alguns conteúdos fossem minimamente
ilustrados. Eu ficava com os olhos bem atentos aos tópicos nas transparências, muitas
vezes preparadas por quem não tinha coordenação motora para manter o tópico em
uma linha reta. Mas como serviram! Gostaria de ter guardado de lembrança umas
daquelas folhinhas.
Essas eram as TICs nas aulas que eu
recebi: os quadros negros com uma metade branca para os lápis, à base de tinta,
ser usados. Meu celular era do tipo Nokia 3310, que só fazia ligações e enviava
torpedos, então, meu whatsapp era os
bilhetinhos escritos à mão em pedacinhos de papel retirados das páginas dos
meus cadernos e das apostilas. As fakenews
eram transmitidas nos corredores, enquanto endeusávamos os professores por
terem voltado dos seus doutorados. Videoconferência era algo que não fazia
parte do meu cotidiano, nem do meu vocabulário. As palestras eram dadas por
convidados vindos de todos os lugares, com financiamento dos programas de pós e
dos projetos de pesquisa. Como sou grato aos professores que vieram
compartilhar conteúdo, e aos que organizaram a vinda deles. Alguns já
faleceram. Que época! Eu estava sendo acordado para um mundo complexo, porém,
instigante e científico da linguagem.
Após esses 17 anos, enfrento o tempo pandêmico,
isolado, com meu companheiro amazonense, ambos com receio de tudo, inclusive,
de ir colocar o lixo na lixeira em frente ao prédio onde moramos. Vejo que os
comportamentos, mais do que nunca, estão sendo ressignificados. Algumas aulas
presenciais, hoje são virtuais. Algumas bancas de defesa e fotos ao lado do
orientador, hoje são prints de telas.
Os abraços e os beijos, mais multimodais
do que antes!
E a linguagem verbal? Essa se modifica
em alta velocidade. Nunca estiveram tão presentes aos meus ouvidos os termos
“UTI, entubar, extubar, pulmão, tédio, quarentena, google meet, hang out, desligue o microfone”. Embora tudo isso,
algo que não mudou, e, espero não mudar, é a capacidade de elogiar e de agradecer.
Hoje, ao assistir a uma palestra virtual
da professora e Deputada Federal Margarida Salomão, ofertada pela ABRALIN, vi
alguns colegas e ex-professores interagindo no chat, enviando abraços, beijos e perguntas. Fiquei envolto por
tantos sentimentos sobre os meus professores e lembranças da minha formação
acadêmica.
Senti o desejo de agradecer-lhes por
tanto acolhimento, por tantos puxões de orelha, por tantos textos, fichamentos,
resumos, relatórios, livros comprados, orientações. E não poderia faltar a
gratidão pelos apertos de mãos e abraços na Praça da Alegria, do CCHLA. A minha
gratidão vai a todos os professores e professoras que, de algum modo, estiveram
relacionados à minha formação, na graduação e na pós. Mas, gostaria de
mencionar alguns que, além das salas de aula, permaneceram de algum modo na
extensão da minha vida.
Gratidão pela Linguística, Mônica
Nóbrega; pela Fonética, Dermeval da Hora e Elizabeth Christiano; pelas Línguas
Portuguesas, Marianne Cavalcante, Lucienne Espíndola, Evangelina Faria, Maria
Cristina Assis e Jan Edson Rodrigues. Gratidão pelas aulas de Redação, Regina
Baracuhy; pelas Línguas Inglesas, Elinês de Albuquerque; pelas Teorias da
Literatura, Ana Marinho e Amador Ribeiro. Gratidão pela Literatura Brasileira,
Wilma Mendonça; pela Literatura Latina, Milton Marques Júnior; pela Filologia
Românica, Fabrício Possebon. Não poderia deixar de agradecer pela Literatura Portuguesa,
amplamente recheada de curiosidades, Belisa Áurea (hoje, brilhando nas
constelações).
Já na pós, gratidão imensa pelo deleite nas
aulas, Maria Ester Vieira, Maria de Fátima Almeida, Maria das Graças Ribeiro,
Eliane Ferraz, Márcio Leitão, Regina Celi, Pedro Francelino, Leonor Maia
Santos.
Não poderia deixar de distribuir elogios
à minha sempre querida orientadora, amiga, conselheira amorosa, Marianne
Cavalcante; por ter mostrado como os jardins do mundo acadêmico, mesmo com
pedrinhas, são bons para passear e lançar sementes. Sou honrado por escrever
este texto contendo seu nome como uma das minhas maestrinas da linguagem. A
partir das suas orientações, desde o PIBIC, fui me descobrindo, no sentido
amplo. A minha atuação, enquanto profissional da linguagem, é fruto seu.
Por sua influência, também tive a
oportunidade de voar (literalmente e metaforicamente) para Campinas/SP, onde
pude ser, mesmo por pouco tempo, moldado por orientações da professora Edwiges
Morato e por aulas da professora Anna Christina Bentes, na UNICAMP. Gratidão!
Um sentimento imenso de gratidão também
à minha outra grande influenciadora, Evangelina Faria, por ter me oferecido a
oportunidade de formar professores no Estado da Paraíba pelo PNAIC e pelo SOMA.
O professor que sou hoje, também é resultado da fonte das suas orientações e
sabedoria.
Ademais, gratidão aos que se tornaram
colegas, aos que continuam me ensinando, aos que continuam me aconselhando e
orientando, aos que foram chegando como resultados dos grupos de pesquisa e das
organizações de eventos.
Que este texto simples, porém, feito com
amor e admiração, sirva para reanimar os nossos corações. Palavras não bastam,
mas aquecem nossa esperança, nossa determinação e nosso ativismo, em dias
difíceis, para que tudo volte logo à “normalidade”, para que continuemos
formando por mais 17, 20, 30 anos.